“Eu quero voltar para a ilha!”, “Eu quero voltar para a ilha!

A visita de Marcelo Rebelo de Sousa a Terras de Sua Majestade fez lembrar um antigo programa da SIC em que um náufrago era resgatado por um navio. Mas quando lhe contavam o que se passava em Portugal, o ator Carlos Areias gritava “Eu quero voltar para a ilha!”, “Eu quero voltar para a ilha!”. Mais adiante explicamos por que é que a visita nos fez lembrar a comédia televisiva.
O Presidente da República condecorou o enfermeiro Luís Pitarma com a Ordem de Mérito, grau de Oficial, por ter tratado do primeiro-ministro britânico Boris Johnson quando este contraiu covid-19. Parabéns, Luís! Gostámos desta condecoração que, mais uma vez, comprova a qualidade dos enfermeiros portugueses, cá ou em qualquer parte do mundo. Com ou sem Brexit, afinal temos com Inglaterra uma velha aliança e Marcelo honrou essa linhagem histórica.
Pegando no exemplo concreto de um enfermeiro que trabalha no Hospital Lusíadas Amadora, este profissional recebia antes 180 euros por mês de subsídio, 14 vezes por ano, pelas horas noturnas que trabalhava. Atualmente, passou a receber 54,14 euros pelo mesmo número de horas noturnas que cumpre num mês. E, se a quantidade de horas noturnas que trabalha se mantiver nos próximos meses, ele vai receber os mesmos 54,14 euros apenas por 11 vezes (descontando o mês de férias) e não 14. Ou seja, na prática, perde 1924,86 euros num ano.
Mas achamos também que o Presidente da República foi eleito pelos portugueses, que muito ficaram agradecidos aos enfermeiros por os terem tratado durante as múltiplas fases da pandemia. Será que quem tratou das pessoas que elegeram Marcelo também não mereceria um reconhecimento? Afinal, o Presidente da República representa-nos a todos ao mais elevado nível: os eleitores e os seus cuidadores. Fica a pergunta. Ou a sugestão. Como preferir, Sr. Presidente. Seria, talvez, mais um contributo para a “marca de qualidade” da sua presidência.
Sempre infatigável, Marcelo visitou um hospital londrino onde trabalham muitos enfermeiros portugueses. E onde se ganha mais numa semana de trabalho do que num mês em Portugal… Falou-se da possibilidade de regressarem à pátria amada. Os enfermeiros terão comentado que, havendo condições, o retorno seria para “ontem”. Nós achamos que, se algum deles o fizer por estes dias, quando verificar as condições de trabalho que existem por cá, vai gritar em tom desvairado: “Eu quero voltar para a ilha!”, “Eu quero voltar para a ilha!”
Os que estão e gostariam de ter regressado “ontem”, não o farão porque não são idiotas. Os que por aqui são tratados como tal é natural que comecem a pensar seriamente em demonstrar que também não são.