Na urgência do Hospital de Faro as noites já se parecem com os dias
Na Urgência do Hospital de Faro as noites são cada vez mais parecidas com os dias, como disse uma enfermeira que recentemente assistiu a uma ambulância que chegou às 3h00 e só saiu às 9h00. Numa manhã desta semana, o cenário no interior da Urgência era de degradação humana, com os corredores cheios de macas com doentes a precisar de cuidados, na sua maioria idosos. Diz quem conhece o espaço que está a acontecer algo nunca visto: agora até já colocam macas nos acessos aos corredores.
Às 15h15 do dia em que o Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (SINDEPOR) visitou o espaço, havia 80 doentes na zona de balcão da Urgência, mas às 17h30 o número já tinha subido para 116. Ambulâncias à espera eram 7. E no último domingo chegaram a ser 12. O SINDEPOR calcula que faltem cerca de 20 enfermeiros ao serviço de Urgência do Hospital de Faro.
Alguns trabalham 150, 160 ou 170 horas mensais. Estão extenuados. “Nós quando vamos de férias ficamos de cama para recuperar”, descreve um enfermeiro. Há vários pedidos de transferência e de mobilidade entregues por enfermeiros, mas a direção de enfermagem não lhes responde, sob pena de os recursos humanos ficarem ainda mais escassos.
No entanto, as maiores vítimas são os utentes do SNS. As Urgências não têm espaço suficiente para uma população que costuma triplicar durante o verão. O material também escasseia. Faltam macas, cadeiras de rodas e sofás para colocar os doentes. Não há ar condicionado, apesar do calor que se faz sentir. “Há doentes que entram na Urgência na maca dos bombeiros, são vistos e saem na maca dos bombeiros porque não há macas do hospital disponíveis”, denuncia um enfermeiro.
Na Urgência deveria haver um espaço de isolamento para doentes com, por exemplo, suspeita de tuberculose ou bactérias multirresistentes. Mas não existe. Muitas vezes o espaço de isolamento não passa de uma cortina, outras vezes nem isso. “A qualidade do atendimento na Urgência regrediu 10 anos”, aponta uma enfermeira.
“O Hospital de Faro tem outros problemas que iremos expor numa reunião com o conselho de administração, mas o que se passa na Urgência é inaceitável, é de um hospital do terceiro mundo e não de um país da União Europeia”, critica Luís Mós, coordenador da região sul do SINDEPOR, que esta semana visitou o Hospital de Faro.
“Ainda nem sequer atingimos o pico do verão e a situação já está de tal ordem que deveria levar os responsáveis do hospital e pela saúde em Portugal a agir de imediato”, avisa o sindicalista, que garante: “Não denunciamos esta situação apenas pelos enfermeiros que estão cansados e desmotivados, é também pelos utentes que não merecem ser tratados desta forma.”
Leia aqui a notícia do Expresso.