Não faltam apenas médicos nos cuidados de saúde primários

A falta de enfermeiros é uma das principais queixas que ouvimos no terreno, nas visitas que efetuámos, esta quarta-feira, aos Centros de Saúde de Montemor-o-Velho, Soure e Condeixa. Trata-se de equipas que já são pequenas mesmo quando completas e em que basta a ausência de um elemento para sobrecarregar os restantes colegas. Além da falta de um enfermeiro em definitivo, por vezes soma-se a ausência de mais um colega por atestado, o que torna tudo ainda mais difícil.
Pelo menos num caso, foi-nos referido a existência de um concurso para a contratação de um novo colega, mas esse processo encontra-se atrasado. Nestes centros de saúde, o trabalho dos enfermeiros é muito exigente, por lidarem com utentes na sua maioria idosos, com mais de 80 anos de idade, e que necessitam de muitos cuidados de enfermagem. Além disso, ao trabalho assistencial soma-se a administração da quarta dose da vacina contra a covid-19.
As enfermeiras destes centros de saúde queixam-se também da falta de conclusão da avaliação referente aos anos de 2019-20 por parte da ARS Centro. Uma situação indigna, já contestada pelo SINDEPOR, ainda para mais tendo em conta a prestação destes profissionais durante a pandemia. Infelizmente, estamos em 2022 e o processo tarda em ficar concluído, com os inerentes prejuízos para muitos enfermeiros em termos de progressão de carreira.
Outra das queixas dos colegas prende-se com a idade da reforma. Enfermeiros que, quando iniciaram a profissão, há algumas décadas, tinham como horizonte reformarem-se aos 57 anos de idade. Como sabemos, lamentavelmente, esta é mais uma promessa não cumprida e hoje temos enfermeiros com mais de 60 anos, com menor destreza, mas a terem que fazer o mesmo trabalho como se fossem jovens.
Recordamos que, após os 60 anos de idade, a taxa de absentismo é muito elevada, algo de compreensível pela natureza e exigência desta profissão que tem a mais exigente e nobre das missões: cuidar de seres humanos.
Juventude é também o que falta nestas equipas. Num dos centros de saúde que visitámos, apenas uma enfermeira tinha menos de 50 anos (em concreto, 43). Toda a restante equipa tem mais de 50 anos de idade. Escasseiam, portanto, os enfermeiros mais novos e os mais velhos não aguentam este ritmo tão exigente. Fatores que podem afetar a qualidade e segurança dos cuidados prestados, fruto de políticas que não têm em conta e não compreendem a especificidade da nossa profissão.
Quisemos principalmente ouvir os colegas sobre os problemas que afetam o seu dia-a-dia, mas lembrámos-lhes também a importância de se sindicalizarem para que os sindicatos possam ter mais força quando negoceiam com o Governo.
Participaram nestas visitas o coordenador da região Centro do SINDEPOR, Nuno Couceiro, os dirigentes Margarida Vieira e Nuno Fonseca, e a delegada Marília Mateus. Porque mudar é preciso!



